quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Menina que Roubava Livros


A primeira vez que dei de caras com este livro, tinha este título

Só depois de ser publicitado o filme, comecei a ver as capas com o outro título.

Quando a morte nos conta uma história temos todo o interesse em escutá-la. Assumindo o papel de narrador em "A Rapariga que Roubava Livros", vamos ao seu encontro na Alemanha, por ocasião da segunda guerra mundial, onde ela tem uma função muito activa na recolha de almas vítimas do conflito. E é por esta altura que se cruza pela segunda vez com Liesel, uma menina de nove anos de idade, entregue para adopção, que já tinha passado pelos olhos da morte no funeral do seu pequeno irmão. Foi aí que Liesel roubou o seu primeiro livro, o primeiro de muitos pelos quais se apaixonará e que a ajudarão a superar as dificuldades da vida, dando um sentido à sua existência. Quando o roubou, ainda não sabia ler, será com a ajuda do seu pai, um perfeito intérprete de acordeão que passará a saber percorrer o caminho das letras, exorcizando fantasmas do passado. Ao longo dos anos, Liesel continuará a dedicar-se à prática de roubar livros e a encontrar-se com a morte, que irá sempre utilizar um registo pouco sentimental embora humano e poético, atraindo a atenção de quem a lê para cada frase, cada sentido, cada palavra.
Um livro soberbo que prima pela originalidade e que nos devolve um outro olhar sobre os dias da guerra no coração da Alemanha e acima de tudo pelo amor à literatura.

Achei a ideia de ler um livro narrador pela morte interessante e quando comecei a ler, mais me interessou ao ver o papel que o narrador desempenha na história.
Bravo Markus Zuzak!

Desde há muito tempo que não lia um livro que me emocionasse à beira das lágrimas, porque nos deixamos levar pelo narrador (um narrador estranho de fato) e nos sentimos a viver as vidas dos personagens, como se estivéssemos lá, tal como o narrador que está, mas não está.

A escrita é sensacional. As frases empregues para explicar as situações são de mestre.

"Antes de eles seguirem para suas respectivas casas, a voz de Rudy aproximou-se e entregou a verdade a Liesel. Esta passou um tempo sentada no ombro da menina, mas, algumas ideias depois, chegou a seu ouvido."

"Um arranhão riscou um fósforo do lado de seu rosto, no ponto em que ela batera no chão."

Ficamos por dois exemplos apenas, ou teria que transcrever todo o livro.


Em algumas partes do livro, quase não nos apercebemos que o narrador tem uma parte muito activa na acção, e em outras damos por nós a saber o que ele sente.

"Por favor, acredite quando lhe digo que, naquele dia, peguei cada alma como se fosse um recém-nascido. Cheguei até a beijar alguns rostos exaustos, envenenados (...) observei suas visões de amor e os libertei de seu medo.
(...)Vez por outra, eu imaginava como seria tudo acima daquelas nuvens, sabendo, sem sombra de dúvida, que o Sol era louro e a atmosfera interminável era um gigantesco olho azul."


"Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer."

Quando leio um livro que me agrada assim tanto, não costumo desejar ver o filme (com receio (ou a certeza) de ficar desapontada e aliás, se o vejo é só depois de ler o livro todo. Neste caso, até me interessa ver o filme, embora tenha a certeza que o papel do narrador vai desaparecer e terá que ser substituído por qualquer coisa muito boa que deve ser difícil alcançar.

1 comentário:

José Marcos Serra disse...

A Adriana foi ver o filme e sensibilizou-se.